sábado, março 18, 2006

Discussões de sexta à noite

Na sexta-feira passada, como muitas outras sextas ao longo destes onze ou doze anos (eu sei Z., já fui mais assíduo, direi mesmo, raramente faltava), fui jantar com S. e Z., na casa de S. como habitualmente. No meio das imensas e habituais discussões, S. disse que tínhamos diferentes formas de utilizar a nossa inteligência. A dela é mais elaborada ou seja, perante uma situação qualquer ela resolveria melhor se tivesse tempo para pensar. Já eu tenho uma inteligência de resposta mais imediata e se pelo contrário me for fornecido tempo para pensar, acabo por me perder em deambulações e a resposta não ser tão clara. Quanto a Z., segundo S., não tem inteligência que se destaque para nenhum dos dois lados. Recordo que Z. ficou ofendidíssimo por não ser taxado com um rótulo, mas penso que na realidade a sua inteligência é a mais equilibrada de entre os três, pois oferece uma versatilidade que me parece não existir em mim ou na S..
Z., perante situações diversificadas, não atingindo em pleno qualquer um dos extremos citados, acaba por responder de forma mais eficaz às exigências tidas. Arriscarei talvez em dizer que, segundo a análise feita por S., para atingir a performance de Z., eu e S., teríamos que laborar juntos.
Gostaria agora de dar o dito por não dito e dizer que este texto foi escrito umas horas depois da conversa tida e que a análise de S., foi feita no momento.
Finalmente pedia aos outros intervenientes aqui mencionados que, se por aqui passarem e eu não estiver a ser tão exacto no relato dos factos quando deveria ser, deixem ficar aqui um comentário. É claro que podem também comentar este texto por outra razão qualquer.

Pensem

Acredito com cada vez mais convicção, que há reais intenções de pôr as pessoas a não pensar. Não é novidade nenhuma que a melhor forma de dominar um povo é, não o deixar pensar e, subsequentemente, este perde a capacidade de analisar, de concluir e finalmente contestar. É no ensino que os governos exercem a sua forma de adormecer mentalidades e, desta forma, promovem a capacidade de não pensar. Vemos então a carga horária de disciplinas de carácter criativo a ser reduzida, em detrimento de disciplinas com um cunho bastante forte de compreensão (leia-se de entendimento de programas predeterminados) onde a articulação de dados e a memorização são os factores decisivos ou pior ainda, com disciplinas, melhor dizendo, áreas curriculares não disciplinares, assim as classifica o ministério de educação, de carácter ideológico, como por exemplo, educação cívica. É nas disciplinas criativas que o aluno aprende a pensar e a tomar opções autónomas, nunca em disciplinas onde o jogo é predominante, onde existem regras que uma vez seguidas irão ditar resultados análogos ou iguais. Assim, aprendem nestas últimas a obter resultados lógicos e nunca a criar alternativas para obter um resultado paralelo e igualmente possível.
Quando se pede a alguém para pensar, obtém-se inúmeras vezes como resposta a indignação ou o insulto. As pessoas reagem desse modo, porque consideram já o estar a realizar, mas no entanto o que estão a fazer não passa de um simulacro de pensamento. Lembrei-me agora de um acontecimento ocorrido numa aula da disciplina de Estética leccionada, à data, pelo professor Álvaro Lapa, na FBAUP (ainda na altura denominada ESBAP) que ilustra bem ou não, o que acabo de dizer. Depois de ter feito uma interpretação de um texto de Gilles Deleuze, sobre um livro de Nietzsche (A origem da tragédia), o professor dirigiu-se aos alunos e disse: - …mas isto é o que eu penso do que o Deleuze pensa acerca do que pensava Nietzsche. Agora, vocês vão para casa, leiam o livro do Nietzsche, porque vós sois quem sabe.
Talvez mais de metade da turma ficou indignada. A outra metade compreendeu o que o professor estava a pedir. – Pensem!
Consideremos, que uma instituição de ensino superior não é propriamente uma escola de ensino básico, onde os professores comunicam e explicam conceitos. No ensino superior os alunos já devem ser possuidores dos conceitos e os professores devem ser apenas orientadores, dar a conhecer para que os alunos possam construir o seu próprio caminho, despertar os alunos para uma cada vez maior autonomização. Era isto que o professor Álvaro Lapa estava a fazer connosco, a mostrar-nos alguns dos caminhos possíveis, não para optarmos por um deles, mas, mais do que isso, traçarmos o nosso próprio caminho.
É preferível fornecer todos os ingredientes e mais alguns e não dar a receita, possibilitando ao cozinheiro criar a seu belo prazer, do que dar alguns ingredientes nas medidas certas, mais a receita a seguir. Pensem e surpreendam!

quinta-feira, março 16, 2006

dica para cozer polvo

E porque não, partilhar um truque de culinária no meu blog?
Hoje estou a cozinhar polvo para o jantar. Todos sabem que cozinhar polvo é difícil, pois nunca sabemos se ele vai ficar duro ou não até o degustar. Bom, sempre ouvi dizer que se for polvo congelado não há esse problema, o bicho fica sempre mole. Aprendi entretanto, que se dermos uma valente tareia ao animal, imediatamente antes de o pôr a cozer, o polvo fica mole depois de cozido. A última que soube, e que chegou tarde para este jantar, é que se cozer o dito cujo sem sal, ele fica uma beleza.
Bom, terei de experimentar esta última dica da próxima vez que cozer polvo. Entretanto, se alguém que por aqui passe o ensaiar, diga de sua justiça neste mesmo local.
Já agora, se me permitem, gostaria de deixar aqui uma palavrinha para alguns dos meus amigos mais chegados (vocês sabem de quem é que eu estou a falar) que por um acaso aqui passem. Não vejam nem façam interpretações menos correctas deste texto, pois não passa disso mesmo, de um truque de culinária. Não é como aquele texto, já longínquo, que escrevi para um professor, cheio de “e/ou”, com a finalidade de lhe chamar burro, tenha ele compreendido ou não a piada. É claro que um texto como este aqui, proporciona-se a que façam algumas interpretações maldosas, pois isto de tornar o polvo mole ou duro e só o saber quando o degustar ou se estiver congelado o bicho fica sempre mole, tem que se lhe diga. Ficar mole depois de cozido, também não está mal, não senhor. Quem diria, escrevi um texto que tem pano para mangas. E pronto, já satisfiz as mentes mais perversas, dos tais meus amigos (com esta deixa das mentes preversas, ficam eles queimados e eu saio imaculado hehe).
Falar do texto que escrevi durante o meu tempo de aluno universitário, trouxe-me à memória outras recordações, talvez, dignas de serem aqui contadas, mas fica para uma outra altura.

segunda-feira, março 13, 2006

pescadores de nuvens

Estavam os pescadores de nuvens nos seus barcos a pescar. Atiravam as redes com as suas bóias, que ficavam a pairar muito sossegadinhas ao sabor do vento. Depois, com muito esforço, lá iam eles puxando as redes e com elas as nuvens, levando as segundas para onde elas eram mais necessárias.
Lá do alto, observavam a terra como pássaros e partiam com esforçadas, mas vigorosas remadas, em viagens que podiam demorar semanas.
Sempre com as nuvens a reboque, debaixo de um sol escaldante, os pescadores cantavam cantigas dos feitos de fainas passadas.
Uma vez chegados ao seu destino, soltavam as nuvens, tal como os pastores soltam os seus rebanhos, deixando-as ao sabor do vento, que à laia de cão pastor, ia guiando o seu rebanho.

a casa das Artes

Estávamos a conversar sobre a estupidez que é ter uma Casa das Artes que praticamente não existe. Falávamos de tudo o que foi a Casa das Artes e de tudo que se perdeu. E porque não funciona a Casa das Artes como outrora funcionou?
Digo eu: o facto de estarmos distantes do centro de decisão política, faz com que as coisas não operem.
J. disse-me: o que fariam as pessoas se a IURD estivesse a comprar a Casa das Artes?
Então vamos fazer de conta que isto é verdade e questionemo-nos novamente sobre o que podemos fazer pela Casa das Artes.

Vejamos de outra forma.
Quando a IURD quis comprar o Coliseu do Porto, as gentes da cidade levantaram-se e defenderam o Coliseu. É claro que por trás desta movimentação geral estava um pequeno grupo com aparentes preocupações culturais e que se aproveitou de algum descontentamento generalizado relativamente à IURD, para combater a compra do Coliseu. A Casa das Artes está a morrer, no entanto ninguém se importa. Porém, se a IURD tentasse comprar a Casa das Artes, muita gente indignar-se-ia e erguer-se-ia para evitar a compra. Leva-me a concluir, numa primeira reflexão, que a defesa da Casa das Artes passa por uma questão de segregação e não por uma questão cultural. E, recordem-me se eu não estiver a dizer a verdade, reportando-nos ao tempo pré tentativa de compra do Coliseu pela IURD, este mesmo local estava moribundo.
Concluindo: é tudo uma questão territorial, as pessoas estão-se danando para a cultura, o que interessa é que não fiquem com aquilo que é nosso.
Ou então: mais vale um pássaro morto na mão, do que dois bem vivos a voar.

ouvindo irmaos catita

Ouvindo irmãos catita:

- Blog mágico, blog meu, haverá alguém no mundo mais qualquer coisa do que eu?
- Foda-se! Não me estarás a confundir com um espelho?