sábado, dezembro 06, 2008

problema de mãos

Bom, o outro homem morreu, mas este não!

Este tinha um problema nas mãos. Um problema muito simples, mas bastante complexo. Ele não sabia o que devia fazer às mãos. Ficava para ali, com elas assim, desesperado, sem saber o que lhes fazer. Por vezes… mas não, não adiantava nada, as mãos continuavam ali, assim. Também tentava e tal, mas o problema persistia e até o irritava mais. Todos os seus esforços eram em vão. Era um homem desesperado.

Um dia, desatarraxou as mãos e meteu-as nos bolsos. Ficou felicíssimo.

sábado, novembro 22, 2008

desaprender a respirar

Um dia, um homem, desaprendeu a respirar.

Estava ali, assim… e de repente parou de respirar. Não porque lhe desse maleita maior; não porque prendesse a respiração; não porque a isso o obrigaram; apenas porque não sabia como o fazer. O homem pensou: que se passa? Parei de respirar? Mas… como se faz para respirar?

Na verdade o homem não sentia nada. O seu peito simplesmente deixou de mexer e a sua pele ficou… O homem não sentia dor e apenas se sentia cada vez mais dentro de si próprio. Nesse profundo âmago, encontrou-se a si próprio.

- Porquê? Porque é que só na hora da minha extinção é que me encontro?

E o homem deixou de pensar.

sexta-feira, novembro 07, 2008

ressonância magnética

Hoje, fui fazer uma ressonância magnética. Foi a primeira vez que fiz tal exame. Enquanto decorria o exame, muitos pensamentos me ocorreram, não sendo propriamente os mais comuns, penso eu, em situações deste tipo.

Lembrei-me da Série “House”, onde os exames similares nunca eram tão ruidosos. Pensei, quantas mais ressonâncias irei fazer até ao final dos meus 150 anos de vida. Será que o bombardeamento magnético a que estou a ser sujeito me irá transformar num super herói, daqueles com super poderes? Não me parece, mas fico contente em descobrir… em reconfirmar que, ainda existe dentro de mim uma criança e que não fui empedernido com as agruras da vida.

Mas é o ruído que me continua a fazer gerar pensamentos e, de entre estes, aquele que mais se destaca e se torna recorrente ao longo do exame, é a ligeira frustração por não ter trazido comigo o meu pequeno gravador de áudio. Desse modo, poderia gravar os sons e garanto que se tratava de puro “noise”, que apreciei do princípio ao fim. Creio que vou pegar no dito aparelho de áudio e andar com ele o resto do dia.

quinta-feira, novembro 06, 2008

se soubesses o que é!

Se soubesses o que é!

Estar assim embrulhado em sentimentos, de sorriso no rosto e cansaço na mente. Espreitar por entre a ruína e sorrir pela madrugada. Esperar pelo desejo e conquistar a esperança.

Ah, mas se soubesses o que é!

Não saber nada e nada esperar. Ter o cuidado de não perturbar o silêncio e deixar a água do lago repousar. Olhar! Ver e amar. Pensar e ficar feliz por pensar. Estar vivo e saborear.

Se soubesses o que é partilhar!

Ser uno e apaixonado. Correr descalço sobre a água do mar. Comer gelados, gritar, brincar, aproveitar o sol e de novo o mar. Ser criança, ingénuo e acreditar. Hum! Que bom é ser.

quinta-feira, outubro 30, 2008

o Ardina

Quarta-feira, 18.30 h. O comboio chega à estação de S.Bento.

Saio da estação e dirijo-me para a praça da Liberdade. Com a mudança da hora para o horário de Inverno, já é noite.

Quando estou a aproximar-me do Ardina (estátua que se encontra na dita praça), noto um casal de turistas a observar curiosamente o Ardina, a aproximarem-se cuidadosamente e com alguma desconfiança. Estranhei, mas logo compreendi.

Ele aproximou, lenta e cuidadosamente a sua mão, à mão do Ardina que segura o jornal. Tocou-lhe ao de leve para logo de seguida e desfeito o mistério, dar-lhe duas ou três sapatadas fortes na mão, para confirmar à sua companheira que se tratava de uma estátua verdadeira e não de um homem estátua.

Hoje, quinta-feira, ao dirigir-me para a estação, notei um grupo de vários indivíduos em volta do Ardina. Pareceu-me que riscavam qualquer coisa no jornal que pende da sua mão. E estavam mesmo. Estavam com folhas de jornal a riscar por cima do jornal de bronze, de forma a decalcar a textura do segundo para o primeiro. Achei de novo curiosa esta interacção com o Ardina.

É maravilhoso notar como uma estátua, pela qual passo todos os dias, para a qual olho todos os dias e pela qual muitas vezes lamento os actos de vandalismo* a que se vê sujeita, consegue, mesmo assim, atrair das mais diversificadas formas a curiosidade dos transeuntes.


* Lamento terem-lhe partido a ponta do cigarro que lhe pendia nos lábios. Lamento as “spraysadas” de que foi vítima e que são notórias no jornal. Lamento a falta de cuidado da autarquia que não zela convenientemente pelos monumentos que possui (mas o desrespeito da câmara municipal pela cultura da cidade, é outra história que tem pano para mangas).

terça-feira, outubro 28, 2008

negativland

01/10





02/10





03/10





04/10





05/10





06/10





07/10





08/10





09/10





10/10





Não resisto a colocar mais estes dois.

Time Zones





Car Bomb




segunda-feira, outubro 27, 2008

porque escrevo?

Escrevo porque não quero dizer a razão de escrever, escrevo porque as palavras me afluem aos dedos, escrevo porque não tenho razão para o fazer.

Escrevo porque não existe sentimento, escrevo porque é o que acontece, escrevo porque não é isso que penso.

Escrevo porque não existe o que escrevo, escrevo porque me lembro e escrevo, escrevo porque não sei o que escrevo.

Escrevo, escrevo, escrevo e afinal não escrevo, apenas deixo os meus dedos passearem sobre o teclado e lutarem com as palavras para se formarem frases sem sentido que apenas dizem o que não dizem.

São enganos, são metáforas, são pregos na calçada onde caminho descalço.

São alucinações, são pesadelos, são gomas que me colam o peito ao céu.

São verdades, são vocábulos, são sentenças que perdi a jogar com o vento.

É a queda dos dedos sobre o tecladopof kgjq0020+psaldpf bvuqbwfjnwqfb

domingo, outubro 26, 2008

palavras nas mãos

Adormeço com as tuas palavras nas mãos e sonho com todas as vezes que pensei em ti.

eu era para ser dois

Eu era para ser dois, mas acabei por ser vários num só.

Quando parti para a nascença estava decidido que iria ser dois, mas as coisas nem sempre correm conforme o planeamento do destino. Ser dois significava perder um de nós. Por outro lado, ser um para dois era mais enriquecedor. O que não sabíamos era que ao tomarmos a decisão de ser dois num só, estávamos a abrir o caminho para nos tornarmos vários num só.

Este facto de ser vários, ajuda-me a entender melhor os…

Os meus dedos congelaram e os meus olhos, mortos de cansaço, baniram-se da minha face. Parei e o mundo inteiro parou. Ficámos todos na expectativa. Para que mundos tinha eu agora viajado? É uma resposta difícil de dar, mas entre dor e prazer, detive-me. O melhor caminho, é aquele que nos deixa vislumbrar ambas as opções para, entre elas, construirmos o nosso próprio carreiro. Cruzamos com a formiga que segue em sentido contrário e percebemos que foi enganada. Não é o sentido contrário que ela deve tomar, mas sim criar e seguir um novo carreiro, o seu carreiro.

Pouso os meus dedos um a um sobre o veludo negro da caixa, fecho-a e guardo-a. Deixo o texto repousar e vou para junto dos meus olhos. Felizes, reencontramo-nos e partimos unidos para um merecido descanso.

sexta-feira, outubro 24, 2008

nada

Estou na beira da janela, junto ao tecto e observo os pés das pessoas que passam na rua. Na verdade, não consigo ver outra coisa da janela senão os pés das pessoas que passam. Agarro-me às grades que me separam da rua e imagino como será caminhar em liberdade. E lá fora, as pessoas continuam a caminhar.

Vejo-me a cair num poço branco sem fim e fico feliz por não ter fundo. Será, por assim dizer, uma queda para toda a eternidade ou por outras palavras, o caminho para a imortalidade. Não são todos os que concorrem para a perenidade e apenas alguns encontrarão o caminho. No meu caso, o caminho é um poço cheio de luz branca e sem fundo.

Olho em volta e o que vejo? Nada!

Nada é um excelente ponto de partida e a minha felicidade aumenta. Tenho todo o espaço do mundo sem nada. Tenho todo o espaço do mundo para construir. Construir a partir do nada não é fácil, requer apenas muita imaginação. Tento partilhar este espaço com quem se aproxima, mas todos me acham sonhador, ingénuo e absurdo. Falta-lhes imaginação para conseguirem conceber algo a partir do imenso nada.

Uma tela branca está cheia de luz. É preciso, primeiro, reduzi-la a nada e isso significa retirar-lhe toda a luz. Reduzi-la ao negro e a todas as possibilidades que o mesmo nos dá. Só depois temos ponto de partida.

Porque vestes de preto? – perguntam-me. Porque sou o ponto de partida, respondo eu. Não quero ser julgado pelo que visto, mas é por aí que acabo por ser condenado. Falta de imaginação das pessoas, que não conseguem pensar para além do estereotipado. Deviam partir de mim e não do que trago vestido. Mas compreendo, … é mais fácil!

Alguém repara que tenho um buraco negro na orelha e que ele suga tudo que dele se aproxima. Não tenho culpa, mas agora compreendo porque é que existe nada.

sábado, outubro 18, 2008

vidas

Subia Passos Manuel, em direcção ao San Martino, quando ao passar à porta do Coliseu, reparo numa jovem estudante de capa e batina. Reconheci aquele rosto, não porque fosse de alguém que eu conhecesse, mas por ser um rosto reconhecível.

No início do novo milénio, costumava apanhar um autocarro que passava junto à escola do Cerco. Também essa jovem costumava apanhar esse autocarro para se dirigir para a respectiva escola. Era fácil de reconhecê-la já que tinha um problema físico não incapacitante, mas que a tornava distinguível entre os outros jovens estudantes. Deixei de apanhar esse autocarro, mas de tempos em tempos lá ia vendo a jovem em determinados pontos da cidade.

Ontem ao vê-la ocorreu-me um pensamento. Esta jovem chegou a um ponto particular da sua vida, vida que eu fui acompanhando através dos cruzamentos casuais do nosso dia a dia.

Noite.

Na rua, à porta do 77, reencontro J “Super Bock”. É um amigo de longa data que já não via há bastante tempo. Converso com ele, T e Z, entre o ruído de conversas alheias, copos e garrafas espalhadas pelo passeio e cheiros ilícitos.

A noite avança serena e quando dou por isso, estou no Armazém do Chá. Já só restamos dois. Eu e J SB. Enquanto conversamos, não paramos de cumprimentar pessoas que vão aparecendo e que, ou a mim ou a ele ou sobretudo a ambos, vão reconhecendo. Eis que uma dessas pessoas que eu não conhecia, o E, cumprimenta o J SB e ao cumprimentar-me a mim diz:
- Eu conheço-te! Tu eras o vocalista dos B.
- Sim, digo eu.
- Sabes, diz-me ele, de certa forma eu tenho acompanhado a tua vida desde então.
- Ai é! Como assim?
- De vista! Vou te vendo aqui e ali. Posso dizer, no fundo, que tenho acompanhado a tua vida de vista.

Sim, E tinha razão. E eu lembrei-me de novo da jovem estudante a quem eu tenho acompanhado a vida, de vista, desde a sua adolescência até à idade adulta.

terça-feira, outubro 14, 2008

hoje ainda estou a escrever como pinto.



Hoje ainda estou a escrever como pinto. Procuro impossibilidades como, o infinito, o acaso, o vazio… informalismo, mas o que é o informalismo? O informalismo não é a procura. O informalismo é a vontade de fazer, sem intenção de comunicar, é alienação, é sem assunto, é vómito, é automatismo instintivo, é fruição descontrolada de uma produção alheia e desgovernada, é obra aberta. É isso que produzo. E hoje escrevo como pinto. Não quero nada mais, apenas produzir. Observar linhas de palavras, com mais ou menos sentido, desfilarem pelo monitor como se fossem atrasadas para o chá.

Não me parece difícil escrever algo inteligível, mas sem preocupação de significar. Seria mais fácil soltar letras em danças anarquistas, que não passariam de corpos autónomos, perdidos num concretismo de esperados significados. As costas daqueles que esperam por um objectivo palpável, arquearão com o peso da alienação factual.

É tentador soltar em corridas desnorteadas, não letras, mas palavras. Mas o desejo de dar frases a ler é mais forte ainda e, o tornar inteligível o que se produz, é como o desejo do louva-a-deus pela sua fêmea.

Dizer sem dizer nada, tudo dizendo, é brutal e asfixiante. Quero lá saber disto tudo, eu vou é com Morfeu.

sábado, outubro 11, 2008

duas e meia da manhã

Duas e meia da manhã, chego a casa, debruço-me sobre a máquina e começo a teclar.

Não sei sobre o que escrevo, mas um dia disseram-me que eu não tinha dificuldades em escrever, o que nem é mentira. O desejo de estar longe da máquina é nenhum e o sentir os dedos deslizar sobre o teclado satisfaz qualquer um. Lembro-me de algo, mas não consigo largar as teclas que se me aderem aos dedos como velcro.

A memória de algo fugidio é uma benesse para quem quer e todos em mim não queremos. Que quererá isto dizer? Não sabemos, mas continuamos nesta incompreensão de vómito contínuo de palavras. Cansam-se as teclas, mas não os dedos e o cérebro produz ainda mais incoerências, mesmo que… não sei.

Saltam palavras pelos olhos, impossibilitadas que estão de treparem aos ouvidos famintos de confissões honestas. Já não existem atalhos para solucionar o futuro e todos afundamos nas ilusões de um mundo melhor.

Passaram quatro minutos e eu não consigo parar. É um vício, escrever. Não sei o quê, para quê, nem porquê, mas adoro ver o texto crescer. É como se estivesse a pintar. Afasto-me, recuo, avanço e volto a pincelar. Termino.

quinta-feira, outubro 02, 2008

"em busca do tempo perdido"

quem somos nós?

Supostamente, fomos criados por aquele que foi realmente criado pela sua suposta criação.

segunda-feira, setembro 29, 2008

temporariamente perdido

Sou um feixe de luz branca que atravessa o negro universo, sempre em linha recta. Neste momento bati num prisma e fui dividido nas várias cores do arco-íris. É difícil pensar assim, quando nos sentimos dispersos, inebriados com a beleza da sinfonia de cores, mesmo que estas não sejam a nossa cor. É difícil pensar assim, quando nos sentimos fragmentados no pensamento, quando este se divide em razão, emoção e sei lá quantas mais parcelas são.

Necessito tornar-me uno de novo e esse, é o caminho que estou agora a percorrer. Necessito orientar as cores e uni-las de novo em branco para continuar a travessia do belo e negro universo. Na verdade não sei se sou a luz, o universo ou ambos, mas as cores sei que não sou.

As cores são o comprazimento infantil, são o engano que nos turva a mente. Envolvem-nos na felicidade que nos impede de virar as costas e sair da caverna. Não nos deixa ver em pleno a luz, mas apenas as suas refracções.

As cores são Sísifo em pleno labor. Não nos levam a lugar nenhum. Não nos deixam seguir uma única direcção. Dão-nos várias opções que nos encantam. Perdemos toda a determinação e ficamos perdidos num mar de hipóteses sem escolha, que nos podem levar à loucura.

salad days IV

Um dia perguntaram-me se já tinha roubado alguma coisa. Fiquei calado por uns instantes e finalmente respondi: - Não sei,... não me lembro,... mas com certeza que sim.

Fui para casa com essa dúvida na mente. Como me ia encontrar de novo com a pessoa que colocou a questão, decidi nessa noite roubar um copo num bar. Depois do sucesso do acto, como se tivesse ligado um interruptor e se acendesse uma luz, lembrei-me que, durante a minha adolescência, de facto já tinha roubado algumas coisas sem expressão. Dessas, aquelas de que mais memória tenho são:
- flores, que juntamente com os meus amigos de infância roubávamos para depois as vendermos. Com o dinheiro comprávamos gelados.
- espigas de milho que, de novo com os meus amigos, assávamos e comíamos.

Coisa curiosa de que me lembro, era de não ter jeito nenhum para roubar e, por essa razão, os meus amigos punham-me sempre de vigia, quando o acto assim o exigia.

Encontrei-me de novo com a pessoa que tinha colocado a questão e disse-lhe que tinha roubado um copo que me fez lembrar outras coisas anteriormente roubadas.

Porquê o lapso de memória. Penso estar justificado no facto de ser um acto praticado tão despreocupadamente, tão cândido,… era como se a ele tivéssemos direito.

Nunca mais comi milho tão saboroso.

domingo, setembro 28, 2008

AA disse-me:

AA disse-me:

“as pessoas para quem temos menos paciência,
as pessoas para quem temos menos tolerância,
as pessoas a quem acabamos por magoar,
são aquelas que mais amamos.”

Porquê?, perguntei eu!

“Porque são aquelas perante as quais colocamos as nossas fraquezas a nu,
são aquelas com quem nos sentimos mais à vontade, mais em segurança,
são aquelas de quem esperamos sempre a infinita compreensão.

O melhor é explicar-lhes sempre o porquê das nossas atitudes.”

televisão

Vejo muito pouca televisão, muito pouca mesmo, resumindo-se praticamente às notícias da manhã, enquanto tomo o pequeno-almoço. Mas esta semana liguei a televisão enquanto jantava. Estava a dar um episódio da anatomia de Grey. Nunca tinha visto, embora já tivesse ouvido falar sobre a série. O episódio era uma espécie de resumo de todo o enredo da série, apresentado por um dos personagens e de uma forma temática. Uma das coisas que me chamou a atenção foi a referência à banda sonora. Aqui está o excerto dessa parte do episódio. Tenho pena de não saber qual era o episódio para aqui deixar o registo.

hoje fui ao teatro com I…

Hoje fui ao teatro com I… antes de entrar e ainda na rua, por causa da lei do tabaco, fomos abordados por um auto-intitulado guna.

Dizia ele que tinha chapéu porque era guna. Não duvidamos e começamos mesmo a suspeitar que o indivíduo, ligeiramente embriagado, poderia explodir a qualquer momento para uma situação por nós indesejada. Mas não!

Ele, entre as confissões da sua frustração numa situação passada com um casal de amigos do coração, recém-casados, pedia insistentemente para passarmos, depois do espectáculo, pelo café onde ele estava com os amigos, a meia dúzia de metros ao lado do teatro. Dizia que desejava ir ao teatro, mas queria saber se a peça valia a pena. I perguntava-lhe porque não ia ver a peça e ele dizia que queria saber se a peça era fixe. Dissemos-lhe que como ainda não tínhamos visto, ainda não lhe podíamos dizer nada. Ele pediu para lhe dizermos no fim, mas também dizia que já tinha perguntado a outras pessoas e todas lhe disseram que a peça não prestava.

Quando a peça acabou, saímos e vimos o Cândido, lembro-me agora de ele ter dito o seu nome, com os amigos. Pareceu-me ainda mais embriagado que anteriormente. Decidimos que o melhor era não ir ter com ele e seguimos o nosso caminho no sentido contrário.

Bom Cândido, “mentiram-te”. A peça era muito boa.

A peça é “Persona”, de Ingmar Bergman apresentada por “as boas raparigas…”, no “Estúdio 0” (mais informações em http://estudio0.blogspot.com/).
Aconselho a ver. Está em cena até ao próximo dia 2 de Novembro.

Gostei da representação das actrizes e das soluções de encenação. Achei que uma ou outra passagem de som, não estava lá muito bem conseguida, mas nada que comprometesse a peça. As luzes, não sendo o melhor da encenação, tinham momentos muito bons. A cena final e a confissão da enfermeira, foram para mim os momentos mais marcantes, cheios de força e muito bem representados.

Já os momentos menos conseguidos, foram as cenas iniciais, onde as personagens ficavam imóveis, o que me pareceu demasiado artificial, sobretudo a enfermeira pois a outra personagem era a enferma que se encontrava na cama. Ainda bem que tal situação só aconteceu uma ou duas vezes.

sábado, setembro 20, 2008

ai!

Ai!

Vi-te e como eu desejava que sentisses o mesmo que eu. Nem sei se tal possibilidade pode existir, mas o simples facto de achar que uma declaração minha te pudesse ofender e afastar-te ainda mais do que as raras vezes que nos vê-mos…

AA disse-me que se tu te ofendesses então não valias o esforço, mas: primeiro, tenho que arranjar desculpas para me acobardar; segundo, não vejo mal em que te manifestasses pelo desagrado, pois penso que todos nós temos o direito de manifestarmos os nossos sentimentos (isto é um contra-senso, não é?).

Conheço-te mal, mas uma mulher bonita e inteligente, é sempre atraente. Cativaste-me, não pela beleza física que tens, mas pela tua inteligência e forte carácter. É verdade que conheço e me rodeiam outras mulheres atraentes como tu, mas foste tu e o meu pensamento em ti, que fechou a última ferida com que fui brindado. Podem até dizer que me abriste uma nova ferida, mas esta só jorra felicidade. Prefiro pensar que vivo, neste momento, inebriado e que este sentimento se dissolverá com o tempo, no entanto, já algo deixou. Uma ferida fechada. Só por isso vale a pena a minha embriaguês em sentimentos não recíprocos.

Bom, duvido (mas tenho a secreta esperança) que algum dia descubras quem és, mas se tal acontecer gostava que te manifestasses. Isto soa-me um pouco ridículo, mas que se dane. Soa-me também a cobardia, mas de novo que se dane. E quem disse, que algum dia lerás este texto?

Porto bibo – sociedade de elitização urbana

Antes de começar a escrever esta minha opinião, resolvi ir ao site do "porto vivo" procurar apartamentos. Como não obtinha resultados, fui reduzindo as especificações até não colocar qualquer preferência. Desta forma obtive 3 resultados, todos eles referentes à venda de prédios com notas de se encontrarem em mau estado de conservação.

Depois desta busca, vou passar ao motivo que me leva a escrever estas linhas.

Fui informar-me sobre a venda dos apartamentos da Praça de Carlos Alberto, mais propriamente sobre os apartamentos do "Pátio Luso" que abarca, creio que 3 edifícios, sendo um, o do conhecido café Luso e outro, o da sede de campanha do general Humberto Delgado.

Apartamentos bem desenhados, sem preocupações em aproveitar todos os espaços, mas com a preocupação de um bom desenho. Preços absurdamente inflacionados a que o meu parco salário não chega para pedir empréstimo. Queixo-me a R dizendo que não se pode ter bom gosto. R responde que poder pode-se, mas não mais do que isso. -Vê lá, diz-me R, não cries uma obsessão. Não, não crio uma obsessão, mas que vou jogar no euromilhões e nem costumo… ai lá isso vou!

No fim-de-semana passado, converso com um jovem arquitecto e fico chocado com o seu discurso. Diz-me que a cidade do Porto é para os turistas e não para as pessoas que a habitam. Estas só sabem sujar a cidade e estragar. Deveriam, a começar pelos mais velhos, de ser realojados nos subúrbios da cidade. Diz ainda da população,
que são todos uns vândalos e como tal devem ser tratados. Pergunto-lhe se me considera um vândalo. Diz-me que não, mas que só quem tem dinheiro é que deve morar no centro da cidade ou seja: quem tem dinheiro para pagar uma casa inflacionada, compra, quem não tem, tal como ele próprio se descreveu, não compra e vai morar para fora da cidade. Sinto pena dele, tão novo e já com ideias tão curtas e empedernidas. Falei-lhe em educar as pessoas e ele riu-se na minha cara. De referir que momentos antes tínhamos passado pela rua da Banharia, onde uma senhora, muito simpática, com 81 anos de idade, nos abriu as portas (a um grupo de cerca de 30 pessoas que calcorreava as ruas históricas do Porto) para a visita ao pátio de acesso às habitações reabilitadas que os “velhos” moradores adquiriram e que com muito amor e dedicação mantinham asseado. Todos nós ficámos extasiados com a beleza e o aprumo do pátio, enquanto a senhora, com orgulho, ia respondendo às questões que lhe colocávamos. E ele risse na minha cara, quando lhe falo em educar as pessoas? Pobre rapaz!

domingo, setembro 14, 2008

confiança

AA disse-me: "Falar falo com todos, mas confiar, só em alguns".

salad days III

Olho para os raios de sol que entram por entre as frestas da janela e sou levado para os meus dias felizes da infância.

Ficava esquecido, a observar no tempo pequenas partículas de pó. Elas subiam pelos raios de sol até atingirem a sombra. Agarrava-me, então, a uma nova partícula de pó e repetia a viagem.

Oh! Que felicidade quando me libertavam da sesta um minuto mais cedo para ir brincar.

E a bola, que não era de trapos, mas era de plástico. Tão leve, tão leve, que quando chutada com força, fazia trajectórias alucinantes e diminuía de velocidade de uma forma desesperadamente abrupta. Não duravam muito tempo, essas bolas, e sempre que alguém conseguia arranjar algumas moedas, íamos felizes ao “bazar dos três vinténs” ou à “casa dos plásticos”.

Adorava trepar muros e andar pelos telhados. Naquela altura julgava ser uma brincadeira normal, estes ares de acrobata, mas hoje penso serem privilégios de uma infância, por muitos, desejada.

domingo, agosto 31, 2008

inteligência

AA disse-me: "A inteligência é algo de que devemos fazer uso para o desenvolvimento humano ou então só serve para nos envaidecermos perante os menos dotados."

sexta-feira, agosto 29, 2008

gatos II

Uma vez mais os gatinhos, desta vez com fotos da progenitora e da sua prole.
I já deu dois, já só faltam seis.














recordo! (ou o elogio do preto)

Recordo!

Recordo-me de ser adolescente e ser conhecido na zona onde morava como “aquele que anda de preto”. Esta sentença era anunciada em voz baixa, com algum mistério e temor místico. Era como se eu fosse uma espécie de mau agoiro.

Já ouvi vezes sem conta a pergunta: “Porque é que andas sempre de preto?”
Porque gosto, é a resposta. É claro que é pouco para satisfazer as pessoas, mas é a verdade. Gostariam, talvez, de me ouvir dizer que pertenço a uma tribo qualquer cuja “imagem de marca” é o preto.

Na verdade, acabo por me confundir com algumas dessas tribos e até imiscuir-me no meio delas fazendo amizades que perduram, mas nunca me quis conotar com nenhuma delas. Esta ligação acontece porque dentro destas tribos tenho encontrado das pessoas mais cultas, inteligentes e despretensiosas que conheço. É claro que não são todos assim e muitos são mesmo o oposto, mas em termos percentuais empíricos, são os meios onde encontro mais gente interessante.

Mas porque não adopto eu uma destas tribos?

Gosto imenso de pensar pela minha cabeça e ir seleccionando aquilo que me interessa sem ter que me agarrar à ditadura de um grupo. Já me chamaram de anarco-sindicalista e, talvez considerando (por falta de um profundo conhecimento da matéria) um pouco exagerado o epíteto, a palavra anarco agrada-me. Livre-pensador, outro epíteto que me colaram, soa-me melhor. Talvez por não trazer com ele uma carga tão pesada de interpretações.

Para além das pessoas interessantes que encontro nestas tribos, é a cor preta que me atrai. Também a contradição me atrai. Pensar que os “heróis” não têm que aparecer sempre de “branco”. Pensar que os “heróis” podem aparecer de preto.

Recordo-me que, por andar sempre de preto, um dia me classificaram como positive punk, classificação que não adoptei e facto curioso, os próprios ditos criadores do movimento também rejeitaram. Bom, já me classificaram como gótico ou metaleiro, mas, como sempre, rejeitei. Sim, gosto de siouxsie and banshees, bauhaus, napalm death… e depois? Também gosto de björk, radiohead, squarepusher… de pogues, negativland, harry connick jr… de adriano correia de oliveira, mão morta, mariza… de john zorn, nine inch nails, negativland… bom, podia ficar aqui a preencher linhas com nomes de bandas e músicos, mas o que interessa, para além de aqui divulgar alguns dos nomes que me agradam (e não são só os que mais me agradam), é dizer que me enriquece o facto de ter os meus horizontes tão alargados.

Um dia um professor, artista reconhecido, disse-nos que a cor que um pintor mais gasta é o branco. Pois, professor, mas no meu caso é o preto.

gatos

I tem oito gatinhos para dar! Haverá por aí alguém interessado em adoptar um ou mais gatos?

Li em qualquer sítio que os gatos é que nos adoptam a nós. Por isso vou reformular a pergunta.
Haverá por aí alguém interessado em ser adoptado por um ou mais gatos?

É! Soa melhor.

quarta-feira, agosto 27, 2008

o poder das palavras

Ainda há pouco I me dizia por sms: “O teu blog não tem nem 1/3 do bom que, muito provavelmente, tens para contar.”

E eu respondi-lhe: “Pois, mas eu não sou grande coisa na escrita ou pelo menos a mim não me satisfaz o suficiente.”

Como também lhe disse no sms de resposta, fui comer uma panqueca… hummm… com duas bolas de gelado e coberta de chocolate quente… mas o que eu quero aqui contar, é que no caminho fui a pensar na resposta que tinha dado.

Lembrei-me também de J, que me disse no comentário a “salad days II”: “Epá! Até que enfim que te vejo a escrever algo mais longo! Volta-e-meia "passo" por aqui para ver o que tens publicado e tenho notado as tuas longas ausências. Enfim, é a vida e de certeza que tens muitas prioridades antes disto.

Um abraço!”

Eu respondi por e-mail que: “É verdade, ando sempre ocupado com isto ou aquilo, mas também é verdade que muitas das coisas que poderia colocar no blog nunca chegam a ver a luz do dia. Umas por preguiça, outras por preguiça ;-)”

Neste recordar de palavras, deambulei pelas razões que me levam a não ser mais assíduo no meu blog. Duas das razões, ou devo dizer três, estão já expostas, mas existe pelo menos outra que me ocorreu no caminho para a geladaria. Falta-me “a arte e o engenho” para escrever. As palavras são perigosas, quando interpretadas de forma que não a intencionada por quem as diz ou escreve. Também por esta razão, “muitas das coisas que poderia colocar no blog nunca chegam a ver a luz do dia.” Talvez um dia perca o medo de ser mal interpretado e se não o perder, penso que também não se perde nada.

Não! Estou a mentir! No fundo, penso que cada um de nós tem sempre algo a “dizer” que vai ao encontro do que alguém gostava de “ouvir” e eu, não sou a excepção à regra.

Lembro-me agora dos tempos em que as minhas palavras foram cantadas em palco e escutadas na rádio e na tv. Um dia, num concerto, um fã veio ter comigo e disse-me: - Obrigado! As tuas palavras já me salvaram do suicídio duas vezes e sempre que me vem à ideia tal pensamento, coloco a gravação das vossas músicas para que se me afaste tal pensamento da ideia.

Fiquei sem palavras ou pelo menos sem a inteligência na palavra, já que balbuciei qualquer coisa que o jovem agradeceu mas que eu nem no momento escutei, tal foi o choque de descobrir o poder das palavras.

domingo, agosto 24, 2008

noite

A noite começou com troca de mensagens, mas… um banho e após o jantar um enorme gelado. Foi a partida para divagar sem destino e esperar pelo que ia acontecendo. Encontramos alguém conhecido e comenta-se que todos deitam os copos de plástico e as garrafas de vidro para o chão. Naturalmente, no dia seguinte, estarão de ressaca em casa a separar plásticos, papeis, metais e vidros como exige a consciência cívica. Separam tudo e olham com desdém para aqueles que lhes parecem inferiores, só porque nunca fazem a separação do lixo. – Então e os copos e garrafas que ontem largaram na rua? – pergunto eu! Mas não obtenho resposta.

O que é o destino – nova pergunta sem resposta. Mas encontrei-o, seja lá quem for ou tenha o aspecto que tiver. Neste caso surge-me numa noite inesperada e agradável. Encontro caras conhecidas e outras que também não, mas fico feliz por as ver.

Irrita-me o fumo de tabaco, mas aceito-o como fazendo parte de um acto social. Se quero conviver com os outros, tenho que conviver com o seu fumo. Não é condição sine qua non para o acto social, mas cada vez mais se torna num elemento importante na criação de novas redes sociais, bastando para tal observar as portas de entrada dos edifícios de escritórios e afins.

Em casa sento-me e escrevo.

sexta-feira, agosto 22, 2008

tenho um boato espalhado no bolso

Tenho um boato espalhado no bolso.
Verdade! Tenho mesmo ou tinha.

Ele começou por entrar no meu bolso como uma pequena bola de plástico… um pequeno ovo de plástico. Dentro, estava o boato.

Não sei porquê, mas resolvi mantê-lo por lá. O que eu nunca imaginei foi que ele iria chocar no meu bolso. Na verdade, se eu próprio estivesse no meu bolso penso que iria gostar. É confortável, agradável nos dias de Inverno e, uma ou outra vez, a minha mão quente entra no bolso e acaricia o que por lá se encontra.

É um bolso divertido, sempre cheio das mais diversas coisas que fazem companhia umas às outras. Estas coisas, aprendem umas com as outras na mais diversificada e cosmopolita troca de saberes e cultura. Posso dizer que é um bolso rico de conhecimento, porque a troca ou partilha de saberes e cultura, é a melhor forma de enriquecer qualquer cosmos.

Mas voltemos ao boato. Um dia, meti a não no bolso e descobri algo que não estava lá anteriormente. Eram duas metades de um ovo de plástico e um boato. Ele tinha nascido e eu fiquei perplexo!

Era uma coisa pequenina, insignificante, mas com uma força extraordinária. Sempre que eu dizia a alguém que tinha um boato espalhado no bolso, as pessoas ficavam curiosas e então, eu tinha que mostrar o pequeno boato que acalentava no bolso. Era extraordinário assistir a reacção das pessoas perante aquele ser minúsculo, preto e branco. A verdade é que só acreditavam na sua existência depois de o verem.

O boato acompanhou-me durante longo tempo, sempre no meu bolso, até que um dia cresceu e resolveu partir para seguir a sua própria vida. Sei que nunca abandonou a sua casca de origem e que até a transformou na sua habitação permanente. Hoje, ele e a sua casca encontram-se algures pela minha casa. De quando em quando eu encontro-o, sempre dentro da sua casca, não vá acontecer o caso de se perderem um do outro.

Lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que o vi e o meti no bolso. Foi numa manhã fria e escura de Inverno, andava eu sem destino e resolvi passar por um local que me é aprazível onde sei que encontro sempre pessoas interessantes. Foi nessa busca sem destino que eu o vi. Estava junto com outros ovos (pois na altura não passava de um ovo). Eu perguntei a N. o que era aquilo; se era um ovo. Ela disse-me que era um ovo. Fiquei sem argumentos. Era uma evidência factual que, mesmo sendo de plástico, se tratava de um ovo. A resposta que recebi é típica de N., pessoa que admiro e de quem gosto por este tipo de respostas concretas e eficazes, sem grandes hipóteses de se estender por um diálogo desinteressante. Olhei para os ovos e decidi guardar um no meu bolso, como memória de N. e das suas respostas consistentes. Estava assim feita a minha ligação com o boato.

quinta-feira, agosto 21, 2008

"capítulo XXI"

Conheci alguém que, com apenas algumas horas de conversa, deixou algo comigo que nunca pensei que pudesse ficar.

Na falta dessa pessoa e da sua voz, leio o capítulo XXI do principezinho. É o meu capítulo preferido.

aforismo

AA virou-se para mim e disse:
“Existe gente que prefere ter um animal de estimação como escravo, do que uma pessoa por companhia.”

Na verdade não sei o que quis dizer com tal coisa. Não sei se o que penso é o que quis dizer, mas deixo aqui para que se possa dizer o que se pensa.

quarta-feira, agosto 20, 2008

fluídos

Embora já me tenha convencido a nós próprio de que não sei escrever, de igual modo notamos que a escrita é algo que fluí através de mim com alguma naturalidade. Escrever, surge da produção de diálogos tidos entre nós próprio. As discussões tidas entre nós, dentro do meu cérebro, são imensas listas de inspiração primária que na maior parte das vezes não chegam a ver a luz do dia.

Uma ideia, nunca é passível de ser transmitida de uma forma perfeita. Só mesmo entre nós dentro de mim essa possibilidade existe.

sábado, agosto 09, 2008

terça-feira, agosto 05, 2008

salad days II

Madrugada de três de Março de dois mil e oito, pelas cinco horas e quinze minutos.

“Existem sensações/sentimentos que se repetem e que de repente deixámos de sentir.
Hoje acordei e comecei a sentir parte de uma dessas sensações/sentimentos perdidas. Era uma daquelas que me acompanhou nos dias inocentes da infância. Já ouvi descrições que se aproximavam daquilo que sentia e que dizem ser sintoma do nosso corpo em crescimento (?). Nunca consegui traduzir essa sensação/sentimento em pensamentos concretos ou, pior ainda, em palavras. Mas não será por não tentar que a descrição falhará.

Em criança, essa sensação/sentimento, traduzia-se num sentimento de pânico. No entanto, como muitos outros medos que tinha (o dos espelhos, por exemplo, ou mesmo o do escuro), viva-o de uma forma similar ao masoquismo ou seja, vivia-o enfrentando-o e sentindo o que de bom poderia ter dele. Apreciava particularmente a sensação física de me sentir infinitamente pequeno dentro do meu corpo. Paradoxalmente, sentia a infinita imensidão do meu corpo de uma só vez. Não sentia, agora os pés, depois as mãos, mais adiante a cabeça. Sentia-o todo de uma só vez. Quando chegava a esta fase, recolhia-me instantaneamente a um canto perdido do meu cérebro, sendo a sensação de hipervelocidade muito real e, sem paradoxos, a minha pequenez entrava em sintonia com o meu ser.

Esse canto perdido do meu cérebro tinha a forma infinitamente grande de um rectângulo. Neste, eu viajava quase incessantemente entre os cantos do mesmo. Curiosas eram as sensações que ia tendo. Num dos cantos eu podia ser uma partícula infinitamente pequena, áspera e com curvas concêntricas. Só consigo, para a descrever, ter uma imagem aproximada desta partícula quando penso em pedra pomes, embora esta não tenha a densidade correcta.

A melhor imagem que tenho para a descrever, são os desperdícios de metal numa fundição, não sei se é disso que se trata, mas caracteriza-se pela sua forma irregular, como se tivesse liquefeito a borbulhar e se solidifica-se instantaneamente, numa forma preta carbonizada, com as bolhas rebentadas como se de crateras se tratasse e uma densidade imensa o que lhe dá peso e dureza. Creio que já vi formas análogas à que estou a tentar descrever, em imagens microscópicas bidimensionais.

Quando era deslocado para o canto oposto, via-me transformado em matéria suave, antagónica à aspereza anterior, diametralmente oposto ao que pesava, e infinitamente grande, perdendo a noção do rectângulo. Tenho ainda mais dificuldade em descrever este estado, mas, muito grosseiramente, era como se de uma nuvem se tratasse. Compreendo agora que era de diferentes densidades que se tratava, como se comprimisse ou expandisse todo o universo, tornando-o numa massa infinitamente pequena ou infinitamente grande.

Hoje acordei com essa sensação. Foi presente, mas fugidia. Senti-a instantaneamente e involuntariamente uma pequena porção de vezes. Não tive o sentimento de pânico de outrora, apenas a sensação paradoxal de me sentir infinitamente grande e infinitamente pequeno, dentro do meu corpo.

Foi de novo, um vislumbre dos meus salad days.”

segunda-feira, julho 07, 2008

graffiti

É um facto que Graffiti não é um acto de vandalismo, quando muito é um acto subversivo e antes de tudo é arte. Também é verdade que muita coisa a que se chama Graffiti não passam de actos de vandalismo. Mas qual é a diferença entre os dois? É uma fronteira indefinida, como a fronteira entre Portugal e Espanha naquela vila, cuja nome não me recordo, que muda a linha divisória consoante os interesses dos seus habitantes. Ora um dia são espanhóis, ora no outro são portugueses. Mas voltando ao Graffiti, podemos ler na Wikipédia uma definição bastante aceitável em português ou uma definição mais completa em inglês.
Fiquemos então com estes três exemplos.




quarta-feira, julho 02, 2008

s. joão

Ando desaparecido, mas o trabalho assim o obriga e serve como uma excelente desculpa para por aqui não passar. Hoje, apenas deixo imagens do fogo de S. João. Na verdade, do local onde me encontrava, apenas conseguia ver um pequeno pedaço de céu.



















quarta-feira, maio 28, 2008

L.

A si L., a minha singela homenagem. Obrigado.

terça-feira, abril 22, 2008

a menina com olhos de janela

Era uma vez uma menina muito bonita. Aparentemente não tinha nada, mas na verdade a menina tinha um pequeno problema. Invés de fruir de dois olhos como todas as outras pessoas, a menina possuía duas janelas no seu lugar. Esta situação era um pequeno embaraço porque a menina tinha que andar sempre com uns grandes e redondos óculos escuros, minimizando assim o problema. No entanto as pessoas começaram a achar estranho a menina nunca tirar os óculos, fizesse sol ou fizesse chuva, fosse dia ou fosse noite.

Certo dia, alguém se lembrou que aquela situação não podia continuar assim, pois aqueles óculos escuros escondiam alguma coisa de mal. Talvez os olhos da menina lançassem feitiços ou pior ainda, raios fulminantes como aqueles dos filmes de ficção científica com monstros extraterrestres e robôs.

- Isto tem que acabar – disse alguém – hoje vamos tirar-lhe os óculos da cara!
Assim, todas as pessoas se juntaram e quando a menina saiu de casa, agarraram-na e tiraram-lhe os óculos.
Ahhh! – exclamaram todos – Mas tem janelas no lugar dos olhos!

Logo houve alguém que notou algo extraordinário. Através das janelas via-se a própria alma da menina. – Olhem, vê-se a alma da menina!

Todos olharam e o que viram era bonito, ainda mais bonito do que a menina. Via-se tudo o que existe numa alma e ficava-se a conhecer a menina totalmente, ficava-se a saber que a menina era bondosa e não tinha maldade nenhuma dentro dela.

O que ninguém se lembrou é que as janelas antes de servirem para ver para dentro, servem para ver para fora. Isto significava que a menina via através das suas janelas as almas de todas as outras pessoas e por vezes até tinha medo do que via e virava a cara para o lado, chegando a sentir horror.

De repente alguém se lembrou: - Mas as janelas antes de servirem para ver para dentro, servem para ver para fora!
- É verdade? – perguntou alguém à menina.
- Sim, disse a menina, basta olhar para dentro dos vossos olhos como vocês olham para dentro das minhas janelas. Afinal os olhos são as janelas da alma.
De imediato, todos ficaram muito envergonhados e a olhar uns para os outros. Largaram a menina e aos poucos, mas rapidamente, voltaram para casa.

No dia seguinte, quando a menina saiu de casa, já não era uma estranha no meio da multidão, pois todas as pessoas usavam uns grandes e redondos óculos escuros.

terça-feira, janeiro 22, 2008

situações

Chega o metro à paragem, ainda em desaceleração, e reparo num "personagem", daqueles pitorescos, que em todas as cidades se podem encontrar. Era homem para ter os seus 60 anos, usava um barrete vermelho e branco, o que o destacava no meio dos outros passageiros.

Entro e encosto-me à porta oposta à da entrada, ficando de frente para o lugar onde viajava o nosso amigo. Este, orgulhosamente, segurava uma bandeira do Leixões e trazia amarrado ao seu braço um cachecol do mesmo clube. Era um indivíduo de cara marcada pelo tempo, onde rios de lava tinham cavado fortes vincos e deixado um bronzeado notável. Tudo levava
a crer tratar-se de um homem do mar.

Não tardou muito a confirmar-se a minha suspeita. O homem dirige a palavra para a jovem que viajava sentada à sua frente e pede-lhe para segurar, por favor, na preciosa representante do clube. A jovem, talvez um pouco embaraçada pela abordagem feita de uma forma pouco comum ou pela suspeita do carácter peculiar do homem, segurou na bandeira pelo topo e apenas com dois dedos como se de uma pinça se tratassem.

O homem dobrou-se , metendo a mão na saca que jazia a seus pés. Ao retirar a mão, ergueu-a e exclamou numa voz rouca: - Sardinha do nosso mar.
Na sua mão era bem visível, a espreitar entre os dedos, espécimes do tão bem anunciado peixe.

Sem dúvida, este era um homem digno e orgulhoso dos seus ídolos: o Leixões e o Mar.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

má direcção

Vi uma notícia na televisão que se referia à tentativa de agressão a um director desportivo do Belenenses. Fiquei surpreendido com o fanatismo das pessoas.

Penso que tal fanatismo está mal direccionado ou melhor, a tentativa de agressão está mal direccionada. É um gasto de energia mal empregue.

O que penso na verdade, é que esta raiva deveria ser dirigida aos governantes deste país (deputados incluidos). Estou mesmo a imaginar as pessoas a fazer esperas aos nossos ministros, secretários de estado e deputados para lhes arrear com umas guarda-chuvadas bem dadas.

É bonita a imagem que tenho no cérebro. Será que para evitar tal tratamento os políticos começavam a andar na linha? Será que os nossos deputados pediam para lhes cortarem algumas das muitas regalias que têm? Será que pediam para reduzir o número de deputados para tentar equilibrar as contas do estado?

Realmente sou um alienado ou imaginar políticos que não são seres abjectos, que não são alimárias.

domingo, janeiro 13, 2008

escrita automática

Soltem-me os anjos como cães raivosos,
porque de fantasias eu não tenho medo.
As musas, como raivosas meretrizes,
atacam tudo que ande, gatinhe ou rasteje.
Do lado de lá da rua os alucinados flamejam
e com eles serpentes de ferro e aço combatem,
os jogos de palavras, com amor.
Os automatismos na escrita abrem percepções.

futebol e língua portuguesa

Alguém me alertou para a pouca defesa da língua portuguesa no site da primeira liga de futebol portuguesa (será?).

Na realidade, eu não dou tanta importância como isso ao futebol, mas também não sou um fanático anti-futebol. Uma coisa eu sei! O futebol é um fenómeno sociológico que interessa a uma grande parte da sociedade portuguesa. Ora se assim é, deveria haver mais controlo sobre o que se escreve num site que é dedicado, entre outras, à primeira liga de futebol portuguesa (?). Afinal devem ser muitos os que o consultam e, consultar algo bilingue como é este site, não é muito pedagógico. Mas também, quem é que está preocupado com isso?... Bom, eu pelo menos estou.

Consultem a classificação e digam-me o que significam as letras no topo da tabela classificativa.

Ou vejam as estatísticas nos detalhes de um dos jogos.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

2008


Porto, Ribeira - Concerto de ano novo.


Porto, Ribeira - Concerto de ano novo.


Porto, Ribeira - Está-se Bem.

2007


Geradores eólicos (ou como eu gosto de chamar - Ventoínhas).


Geradores eólicos (ou como eu gosto de chamar - Ventoínhas).


Luzes e movimento.


Luzes e movimento.


Luzes e movimento.