domingo, agosto 31, 2008

inteligência

AA disse-me: "A inteligência é algo de que devemos fazer uso para o desenvolvimento humano ou então só serve para nos envaidecermos perante os menos dotados."

sexta-feira, agosto 29, 2008

gatos II

Uma vez mais os gatinhos, desta vez com fotos da progenitora e da sua prole.
I já deu dois, já só faltam seis.














recordo! (ou o elogio do preto)

Recordo!

Recordo-me de ser adolescente e ser conhecido na zona onde morava como “aquele que anda de preto”. Esta sentença era anunciada em voz baixa, com algum mistério e temor místico. Era como se eu fosse uma espécie de mau agoiro.

Já ouvi vezes sem conta a pergunta: “Porque é que andas sempre de preto?”
Porque gosto, é a resposta. É claro que é pouco para satisfazer as pessoas, mas é a verdade. Gostariam, talvez, de me ouvir dizer que pertenço a uma tribo qualquer cuja “imagem de marca” é o preto.

Na verdade, acabo por me confundir com algumas dessas tribos e até imiscuir-me no meio delas fazendo amizades que perduram, mas nunca me quis conotar com nenhuma delas. Esta ligação acontece porque dentro destas tribos tenho encontrado das pessoas mais cultas, inteligentes e despretensiosas que conheço. É claro que não são todos assim e muitos são mesmo o oposto, mas em termos percentuais empíricos, são os meios onde encontro mais gente interessante.

Mas porque não adopto eu uma destas tribos?

Gosto imenso de pensar pela minha cabeça e ir seleccionando aquilo que me interessa sem ter que me agarrar à ditadura de um grupo. Já me chamaram de anarco-sindicalista e, talvez considerando (por falta de um profundo conhecimento da matéria) um pouco exagerado o epíteto, a palavra anarco agrada-me. Livre-pensador, outro epíteto que me colaram, soa-me melhor. Talvez por não trazer com ele uma carga tão pesada de interpretações.

Para além das pessoas interessantes que encontro nestas tribos, é a cor preta que me atrai. Também a contradição me atrai. Pensar que os “heróis” não têm que aparecer sempre de “branco”. Pensar que os “heróis” podem aparecer de preto.

Recordo-me que, por andar sempre de preto, um dia me classificaram como positive punk, classificação que não adoptei e facto curioso, os próprios ditos criadores do movimento também rejeitaram. Bom, já me classificaram como gótico ou metaleiro, mas, como sempre, rejeitei. Sim, gosto de siouxsie and banshees, bauhaus, napalm death… e depois? Também gosto de björk, radiohead, squarepusher… de pogues, negativland, harry connick jr… de adriano correia de oliveira, mão morta, mariza… de john zorn, nine inch nails, negativland… bom, podia ficar aqui a preencher linhas com nomes de bandas e músicos, mas o que interessa, para além de aqui divulgar alguns dos nomes que me agradam (e não são só os que mais me agradam), é dizer que me enriquece o facto de ter os meus horizontes tão alargados.

Um dia um professor, artista reconhecido, disse-nos que a cor que um pintor mais gasta é o branco. Pois, professor, mas no meu caso é o preto.

gatos

I tem oito gatinhos para dar! Haverá por aí alguém interessado em adoptar um ou mais gatos?

Li em qualquer sítio que os gatos é que nos adoptam a nós. Por isso vou reformular a pergunta.
Haverá por aí alguém interessado em ser adoptado por um ou mais gatos?

É! Soa melhor.

quarta-feira, agosto 27, 2008

o poder das palavras

Ainda há pouco I me dizia por sms: “O teu blog não tem nem 1/3 do bom que, muito provavelmente, tens para contar.”

E eu respondi-lhe: “Pois, mas eu não sou grande coisa na escrita ou pelo menos a mim não me satisfaz o suficiente.”

Como também lhe disse no sms de resposta, fui comer uma panqueca… hummm… com duas bolas de gelado e coberta de chocolate quente… mas o que eu quero aqui contar, é que no caminho fui a pensar na resposta que tinha dado.

Lembrei-me também de J, que me disse no comentário a “salad days II”: “Epá! Até que enfim que te vejo a escrever algo mais longo! Volta-e-meia "passo" por aqui para ver o que tens publicado e tenho notado as tuas longas ausências. Enfim, é a vida e de certeza que tens muitas prioridades antes disto.

Um abraço!”

Eu respondi por e-mail que: “É verdade, ando sempre ocupado com isto ou aquilo, mas também é verdade que muitas das coisas que poderia colocar no blog nunca chegam a ver a luz do dia. Umas por preguiça, outras por preguiça ;-)”

Neste recordar de palavras, deambulei pelas razões que me levam a não ser mais assíduo no meu blog. Duas das razões, ou devo dizer três, estão já expostas, mas existe pelo menos outra que me ocorreu no caminho para a geladaria. Falta-me “a arte e o engenho” para escrever. As palavras são perigosas, quando interpretadas de forma que não a intencionada por quem as diz ou escreve. Também por esta razão, “muitas das coisas que poderia colocar no blog nunca chegam a ver a luz do dia.” Talvez um dia perca o medo de ser mal interpretado e se não o perder, penso que também não se perde nada.

Não! Estou a mentir! No fundo, penso que cada um de nós tem sempre algo a “dizer” que vai ao encontro do que alguém gostava de “ouvir” e eu, não sou a excepção à regra.

Lembro-me agora dos tempos em que as minhas palavras foram cantadas em palco e escutadas na rádio e na tv. Um dia, num concerto, um fã veio ter comigo e disse-me: - Obrigado! As tuas palavras já me salvaram do suicídio duas vezes e sempre que me vem à ideia tal pensamento, coloco a gravação das vossas músicas para que se me afaste tal pensamento da ideia.

Fiquei sem palavras ou pelo menos sem a inteligência na palavra, já que balbuciei qualquer coisa que o jovem agradeceu mas que eu nem no momento escutei, tal foi o choque de descobrir o poder das palavras.

domingo, agosto 24, 2008

noite

A noite começou com troca de mensagens, mas… um banho e após o jantar um enorme gelado. Foi a partida para divagar sem destino e esperar pelo que ia acontecendo. Encontramos alguém conhecido e comenta-se que todos deitam os copos de plástico e as garrafas de vidro para o chão. Naturalmente, no dia seguinte, estarão de ressaca em casa a separar plásticos, papeis, metais e vidros como exige a consciência cívica. Separam tudo e olham com desdém para aqueles que lhes parecem inferiores, só porque nunca fazem a separação do lixo. – Então e os copos e garrafas que ontem largaram na rua? – pergunto eu! Mas não obtenho resposta.

O que é o destino – nova pergunta sem resposta. Mas encontrei-o, seja lá quem for ou tenha o aspecto que tiver. Neste caso surge-me numa noite inesperada e agradável. Encontro caras conhecidas e outras que também não, mas fico feliz por as ver.

Irrita-me o fumo de tabaco, mas aceito-o como fazendo parte de um acto social. Se quero conviver com os outros, tenho que conviver com o seu fumo. Não é condição sine qua non para o acto social, mas cada vez mais se torna num elemento importante na criação de novas redes sociais, bastando para tal observar as portas de entrada dos edifícios de escritórios e afins.

Em casa sento-me e escrevo.

sexta-feira, agosto 22, 2008

tenho um boato espalhado no bolso

Tenho um boato espalhado no bolso.
Verdade! Tenho mesmo ou tinha.

Ele começou por entrar no meu bolso como uma pequena bola de plástico… um pequeno ovo de plástico. Dentro, estava o boato.

Não sei porquê, mas resolvi mantê-lo por lá. O que eu nunca imaginei foi que ele iria chocar no meu bolso. Na verdade, se eu próprio estivesse no meu bolso penso que iria gostar. É confortável, agradável nos dias de Inverno e, uma ou outra vez, a minha mão quente entra no bolso e acaricia o que por lá se encontra.

É um bolso divertido, sempre cheio das mais diversas coisas que fazem companhia umas às outras. Estas coisas, aprendem umas com as outras na mais diversificada e cosmopolita troca de saberes e cultura. Posso dizer que é um bolso rico de conhecimento, porque a troca ou partilha de saberes e cultura, é a melhor forma de enriquecer qualquer cosmos.

Mas voltemos ao boato. Um dia, meti a não no bolso e descobri algo que não estava lá anteriormente. Eram duas metades de um ovo de plástico e um boato. Ele tinha nascido e eu fiquei perplexo!

Era uma coisa pequenina, insignificante, mas com uma força extraordinária. Sempre que eu dizia a alguém que tinha um boato espalhado no bolso, as pessoas ficavam curiosas e então, eu tinha que mostrar o pequeno boato que acalentava no bolso. Era extraordinário assistir a reacção das pessoas perante aquele ser minúsculo, preto e branco. A verdade é que só acreditavam na sua existência depois de o verem.

O boato acompanhou-me durante longo tempo, sempre no meu bolso, até que um dia cresceu e resolveu partir para seguir a sua própria vida. Sei que nunca abandonou a sua casca de origem e que até a transformou na sua habitação permanente. Hoje, ele e a sua casca encontram-se algures pela minha casa. De quando em quando eu encontro-o, sempre dentro da sua casca, não vá acontecer o caso de se perderem um do outro.

Lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que o vi e o meti no bolso. Foi numa manhã fria e escura de Inverno, andava eu sem destino e resolvi passar por um local que me é aprazível onde sei que encontro sempre pessoas interessantes. Foi nessa busca sem destino que eu o vi. Estava junto com outros ovos (pois na altura não passava de um ovo). Eu perguntei a N. o que era aquilo; se era um ovo. Ela disse-me que era um ovo. Fiquei sem argumentos. Era uma evidência factual que, mesmo sendo de plástico, se tratava de um ovo. A resposta que recebi é típica de N., pessoa que admiro e de quem gosto por este tipo de respostas concretas e eficazes, sem grandes hipóteses de se estender por um diálogo desinteressante. Olhei para os ovos e decidi guardar um no meu bolso, como memória de N. e das suas respostas consistentes. Estava assim feita a minha ligação com o boato.

quinta-feira, agosto 21, 2008

"capítulo XXI"

Conheci alguém que, com apenas algumas horas de conversa, deixou algo comigo que nunca pensei que pudesse ficar.

Na falta dessa pessoa e da sua voz, leio o capítulo XXI do principezinho. É o meu capítulo preferido.

aforismo

AA virou-se para mim e disse:
“Existe gente que prefere ter um animal de estimação como escravo, do que uma pessoa por companhia.”

Na verdade não sei o que quis dizer com tal coisa. Não sei se o que penso é o que quis dizer, mas deixo aqui para que se possa dizer o que se pensa.

quarta-feira, agosto 20, 2008

fluídos

Embora já me tenha convencido a nós próprio de que não sei escrever, de igual modo notamos que a escrita é algo que fluí através de mim com alguma naturalidade. Escrever, surge da produção de diálogos tidos entre nós próprio. As discussões tidas entre nós, dentro do meu cérebro, são imensas listas de inspiração primária que na maior parte das vezes não chegam a ver a luz do dia.

Uma ideia, nunca é passível de ser transmitida de uma forma perfeita. Só mesmo entre nós dentro de mim essa possibilidade existe.

sábado, agosto 09, 2008

terça-feira, agosto 05, 2008

salad days II

Madrugada de três de Março de dois mil e oito, pelas cinco horas e quinze minutos.

“Existem sensações/sentimentos que se repetem e que de repente deixámos de sentir.
Hoje acordei e comecei a sentir parte de uma dessas sensações/sentimentos perdidas. Era uma daquelas que me acompanhou nos dias inocentes da infância. Já ouvi descrições que se aproximavam daquilo que sentia e que dizem ser sintoma do nosso corpo em crescimento (?). Nunca consegui traduzir essa sensação/sentimento em pensamentos concretos ou, pior ainda, em palavras. Mas não será por não tentar que a descrição falhará.

Em criança, essa sensação/sentimento, traduzia-se num sentimento de pânico. No entanto, como muitos outros medos que tinha (o dos espelhos, por exemplo, ou mesmo o do escuro), viva-o de uma forma similar ao masoquismo ou seja, vivia-o enfrentando-o e sentindo o que de bom poderia ter dele. Apreciava particularmente a sensação física de me sentir infinitamente pequeno dentro do meu corpo. Paradoxalmente, sentia a infinita imensidão do meu corpo de uma só vez. Não sentia, agora os pés, depois as mãos, mais adiante a cabeça. Sentia-o todo de uma só vez. Quando chegava a esta fase, recolhia-me instantaneamente a um canto perdido do meu cérebro, sendo a sensação de hipervelocidade muito real e, sem paradoxos, a minha pequenez entrava em sintonia com o meu ser.

Esse canto perdido do meu cérebro tinha a forma infinitamente grande de um rectângulo. Neste, eu viajava quase incessantemente entre os cantos do mesmo. Curiosas eram as sensações que ia tendo. Num dos cantos eu podia ser uma partícula infinitamente pequena, áspera e com curvas concêntricas. Só consigo, para a descrever, ter uma imagem aproximada desta partícula quando penso em pedra pomes, embora esta não tenha a densidade correcta.

A melhor imagem que tenho para a descrever, são os desperdícios de metal numa fundição, não sei se é disso que se trata, mas caracteriza-se pela sua forma irregular, como se tivesse liquefeito a borbulhar e se solidifica-se instantaneamente, numa forma preta carbonizada, com as bolhas rebentadas como se de crateras se tratasse e uma densidade imensa o que lhe dá peso e dureza. Creio que já vi formas análogas à que estou a tentar descrever, em imagens microscópicas bidimensionais.

Quando era deslocado para o canto oposto, via-me transformado em matéria suave, antagónica à aspereza anterior, diametralmente oposto ao que pesava, e infinitamente grande, perdendo a noção do rectângulo. Tenho ainda mais dificuldade em descrever este estado, mas, muito grosseiramente, era como se de uma nuvem se tratasse. Compreendo agora que era de diferentes densidades que se tratava, como se comprimisse ou expandisse todo o universo, tornando-o numa massa infinitamente pequena ou infinitamente grande.

Hoje acordei com essa sensação. Foi presente, mas fugidia. Senti-a instantaneamente e involuntariamente uma pequena porção de vezes. Não tive o sentimento de pânico de outrora, apenas a sensação paradoxal de me sentir infinitamente grande e infinitamente pequeno, dentro do meu corpo.

Foi de novo, um vislumbre dos meus salad days.”