terça-feira, dezembro 28, 2010

paguem-me as multas a mim também

Ontem, estava a ver um telejornal e entre as notícias sobre a crise financeira que vivemos e as desgraças humanas e naturais que os noticiários tanto gostam de explorar, uma deixou-me boquiaberto e ao mesmo tempo revoltado e preocupado.

Boquiaberto – com a notícia em si mesma: “o estado vai passar a pagar as multas dos partidos políticos.”

Cada vez mais, neste país, a realidade se parece com a ficção; cada vez mais me parece que estamos a viver O triunfo dos porcos. Para os mais distraídos, O triunfo dos porcos é um livro de George Orwell, com o título original Animal farm e editado pela primeira vez em 1945. Existem diversas traduções do título (e do livro), mas parece-me para o caso que esta tradução assenta melhor.

Não é difícil encontrar informação na Internet sobre o livro, mas curioso e irónico é verificar que faz parte das recomendações de leitura do programa de Português do 9º ano de escolaridade.

Citado no site: http://www.wook.pt/ficha/o-triunfo-dos-porcos/a/id/65444

“Plano Nacional de Leitura

Livro recomendado no programa de português do 9º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula - Grau de Dificuldade II.

Publicado pela primeira vez em 1945, O Triunfo dos Porcos transformou-se na clássica fábula política deste século. Acrescentando-lhe a sua marca pessoal de mordacidade e perspicácia, George Orwell relata a história de uma revolução entre os animais de uma quinta e o modo como o idealismo foi traído pelo poder, pela corrupção e pela mentira.

O Triunfo dos Porcos de George Orwell”

Revoltado – não me parece muito difícil perceber porquê, mas uma vez mais para os mais distraídos, depois de acabar de ouvir falar sobre a crise financeira, onde os salários vão baixar efectivamente ou virtualmente através do aumento de impostos, é naturalíssimo ficar revoltado e ofendido com quem tem o poder de decisão neste país.

Uma vez mais a realidade aproxima-se da ficção: “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.”

Preocupado – com o futuro. Onde vamos parar?

Não sou estúpido ao ponto de dizer que, antes de haver a revolução na “quinta”, estávamos melhor, mas sou suficientemente inteligente para perceber que as diferenças são cada vez mais ténues. Arriscaria quase a dizer que a grande diferença é ainda poder, mais ou menos, usufruir da liberdade de expressão.

Mas outras preocupações perturbam a minha paz de espírito.

Eu sou um defensor da utilização dos transportes públicos que uso autonomamente desde os meus dez anos de idade. Estes são um óptimo barómetro para medir o mal-estar de um povo. Claro que os nossos políticos não usam transportes públicos e quando digo políticos refiro-me principalmente aos “nossos” deputados. Passo então a escrever algumas frases ouvidas nos transportes públicos, que sintetizam o sentir de um povo (por decência, pudor ou falta de coragem, decidi não colocar textualmente alguns dos epítetos com que são premiados os políticos deste país).

“É tudo uma cambada de ladrões.”

“A merda é a mesma, mudaram foram as moscas.” ou “A pia é a mesma, mudaram foram os porcos.”

“Era pôr uma bomba no parlamento e mandá-los a todos pelo ar.”

“São todos uns filhos da p***, querem é ir para lá mamar.”

E a minha preferida, talvez porque me fazer lembrar a aldeia de Asterix e Obélix:

“O pessoal juntava-se à porta do parlamento e quando os deputados estivessem a sair, um gajo dava-lhes um arraial de porrada com cacetes, à moda antiga. A ver se eles não atinavam logo dos cornos! Começavam logo a cagar fininho.”

Para terminar, enquanto português sinto vergonha de ter como deputados seres tão indescritíveis como aqueles que estão no parlamento e com quem eu não me identifico. Borrava a minha cara com merda cada vez que votasse em alguma coisa da qual o principal beneficiado fosse eu ou o meu partido! Isso lembra-me a questão: se a maioria dos votos numa eleição forem brancos, como é que será depois?

Se fosse como esta gente criava um partido e criaria benefícios só para quem fosse “mais animal que os outros”. Ah, pois! Eles já fizeram isso.

domingo, dezembro 26, 2010

quem é que anda aí?

Andamos sempre em busca de alguém e alguém anda sempre por aí, mas nunca sabemos quem por aí anda.
E pergunto eu, - Quem é que anda aí?
E alguém me responde?...

sábado, dezembro 11, 2010

aiku III

gosto do cheiro
dessa erva cortada,
eu sobre ela