segunda-feira, agosto 16, 2010

por uma inteligência colectiva

Nesta madrugada de sábado, um amigo dizia-me que, estamos a viver numa época pós-moderna onde as pessoas tendem a especializar-se numa só área do saber.

Na consciência de que o termo pós-moderno é controverso no seu significado e pertinência, afirmo também que é um termo de uso corrente. Partindo desta tomada de consciência e tendo como enfoque a afirmação do primeiro parágrafo, acredito que a mesma não é correcta.

Numa atitude de total liberdade de discurso, direi que o pós-modernismo é uma espécie de renascimento onde, para além do ecletismo, reina uma apropriação/recriação do que já existe. É claro que faço esta afirmação e respectivas caracterizações, porque me agrada pensar desta forma. Pensar no indivíduo não como um “especialista”, mas como um “amador” capaz de abordar várias áreas do saber de uma forma eficaz.

Que não se caia em extremismos e se pense que uma forma de estar perante o mundo deve substituir a outra e esta é talvez mais uma das características do pós-modernismo, aceitar simultaneamente a afirmação e a sua negação como premissas de uma mesma conclusão. Ambas as posições são necessárias ao desenvolvimento da humanidade.

Gosto da ideia de “amador” e sinto que me enquadro neste perfil. É como se fosse um homem do renascimento. Este “amador”, é aquele que explora um assunto o tempo e a profundidade necessários para resolver ou responder a uma questão. Não tem pois, a pretensão de se tornar um especialista na matéria.

Umberto Eco no seu livro “Como se faz uma tese em ciências humanas” diz que, se estamos a estudar um autor ou assunto cuja bibliografia se apresenta sobretudo numa língua estrangeira devemos aprendê-la, lendo na língua original os livros necessários à investigação. Desse modo, podemos não aprender a falar a língua, mas vamos aprender a lê-la ou seja não somos especialistas nessa língua, mas somos “amadores”.

Para terminar este meu texto resta-me dizer que, acredito na inteligência colectiva como a descreve Pierre Lévi*, acredito na colaboração e na partilha de conhecimento. Acredito que a humanidade, deste modo, pode evoluir de uma forma mais rápida e eficaz.

* Inteligência colectiva - O conceito surge a partir dos debates promovidos por Pierre Lévy sobre as tecnologias da inteligência.

“O que é a inteligência colectiva?
É uma inteligência globalmente distribuída, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que conduz a uma mobilização efectiva das competências. Acrescentemos à nossa definição este acompanhamento indispensável: o fundamento e o fim da inteligência colectiva é o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas.
Uma inteligência globalmente distribuída: é este o nosso axioma de partida. Ninguém sabe tudo, toda a gente sabe alguma coisa, todo o saber reside na humanidade.”

Lévy,
Pierre - A inteligência colectiva: para uma antropologia do ciberespaço. Lisboa: Instituto Piaget, ISBN 972-8407-02-5

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