sexta-feira, outubro 24, 2008

nada

Estou na beira da janela, junto ao tecto e observo os pés das pessoas que passam na rua. Na verdade, não consigo ver outra coisa da janela senão os pés das pessoas que passam. Agarro-me às grades que me separam da rua e imagino como será caminhar em liberdade. E lá fora, as pessoas continuam a caminhar.

Vejo-me a cair num poço branco sem fim e fico feliz por não ter fundo. Será, por assim dizer, uma queda para toda a eternidade ou por outras palavras, o caminho para a imortalidade. Não são todos os que concorrem para a perenidade e apenas alguns encontrarão o caminho. No meu caso, o caminho é um poço cheio de luz branca e sem fundo.

Olho em volta e o que vejo? Nada!

Nada é um excelente ponto de partida e a minha felicidade aumenta. Tenho todo o espaço do mundo sem nada. Tenho todo o espaço do mundo para construir. Construir a partir do nada não é fácil, requer apenas muita imaginação. Tento partilhar este espaço com quem se aproxima, mas todos me acham sonhador, ingénuo e absurdo. Falta-lhes imaginação para conseguirem conceber algo a partir do imenso nada.

Uma tela branca está cheia de luz. É preciso, primeiro, reduzi-la a nada e isso significa retirar-lhe toda a luz. Reduzi-la ao negro e a todas as possibilidades que o mesmo nos dá. Só depois temos ponto de partida.

Porque vestes de preto? – perguntam-me. Porque sou o ponto de partida, respondo eu. Não quero ser julgado pelo que visto, mas é por aí que acabo por ser condenado. Falta de imaginação das pessoas, que não conseguem pensar para além do estereotipado. Deviam partir de mim e não do que trago vestido. Mas compreendo, … é mais fácil!

Alguém repara que tenho um buraco negro na orelha e que ele suga tudo que dele se aproxima. Não tenho culpa, mas agora compreendo porque é que existe nada.

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