sábado, setembro 20, 2008

Porto bibo – sociedade de elitização urbana

Antes de começar a escrever esta minha opinião, resolvi ir ao site do "porto vivo" procurar apartamentos. Como não obtinha resultados, fui reduzindo as especificações até não colocar qualquer preferência. Desta forma obtive 3 resultados, todos eles referentes à venda de prédios com notas de se encontrarem em mau estado de conservação.

Depois desta busca, vou passar ao motivo que me leva a escrever estas linhas.

Fui informar-me sobre a venda dos apartamentos da Praça de Carlos Alberto, mais propriamente sobre os apartamentos do "Pátio Luso" que abarca, creio que 3 edifícios, sendo um, o do conhecido café Luso e outro, o da sede de campanha do general Humberto Delgado.

Apartamentos bem desenhados, sem preocupações em aproveitar todos os espaços, mas com a preocupação de um bom desenho. Preços absurdamente inflacionados a que o meu parco salário não chega para pedir empréstimo. Queixo-me a R dizendo que não se pode ter bom gosto. R responde que poder pode-se, mas não mais do que isso. -Vê lá, diz-me R, não cries uma obsessão. Não, não crio uma obsessão, mas que vou jogar no euromilhões e nem costumo… ai lá isso vou!

No fim-de-semana passado, converso com um jovem arquitecto e fico chocado com o seu discurso. Diz-me que a cidade do Porto é para os turistas e não para as pessoas que a habitam. Estas só sabem sujar a cidade e estragar. Deveriam, a começar pelos mais velhos, de ser realojados nos subúrbios da cidade. Diz ainda da população,
que são todos uns vândalos e como tal devem ser tratados. Pergunto-lhe se me considera um vândalo. Diz-me que não, mas que só quem tem dinheiro é que deve morar no centro da cidade ou seja: quem tem dinheiro para pagar uma casa inflacionada, compra, quem não tem, tal como ele próprio se descreveu, não compra e vai morar para fora da cidade. Sinto pena dele, tão novo e já com ideias tão curtas e empedernidas. Falei-lhe em educar as pessoas e ele riu-se na minha cara. De referir que momentos antes tínhamos passado pela rua da Banharia, onde uma senhora, muito simpática, com 81 anos de idade, nos abriu as portas (a um grupo de cerca de 30 pessoas que calcorreava as ruas históricas do Porto) para a visita ao pátio de acesso às habitações reabilitadas que os “velhos” moradores adquiriram e que com muito amor e dedicação mantinham asseado. Todos nós ficámos extasiados com a beleza e o aprumo do pátio, enquanto a senhora, com orgulho, ia respondendo às questões que lhe colocávamos. E ele risse na minha cara, quando lhe falo em educar as pessoas? Pobre rapaz!

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